A pandemia do Coronavírus ainda tem um forte impacto na saúde dos brasileiros e não apenas devido às sequelas deixadas pela Covid-19. De acordo com uma estimativa obtida pelo estudo da Americas Health Foundation realizado com o apoio da Roche, o atraso no diagnóstico e tratamento do câncer pode acarretar em 62,3 mil mortes evitáveis no Brasil. Além disso, outros 284,1 mil brasileiros serão afetados pela mudança no estágio da doença, o que pode reduzir suas chances de cura.
Com a pandemia, muitas pessoas deixaram de realizar consultas médicas e visitar hospitais para evitar contágio com a Covid-19. Também ocorreram diversas medidas de confinamento impostas pelos governos, como meio de contenção do vírus. Essa situação, somada à fragilidade dos sistemas de saúde na América Latina e Caribe, afetou a capacidade de atendimento médico, o que resultou em interrupções no tratamento de pacientes, atrasos no diagnóstico e início dos tratamentos.
O estudo foi realizado em 11 países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai. Foram coletados dados e entrevistas com organizações de pacientes e especialistas em oncologia. A partir das respostas, os pesquisadores mediram o índice de pacientes afetados na detecção e o tempo de atraso do diagnóstico e tratamento, para então estimar os efeitos nos
desfechos do tratamento.
Impacto do estudo e aumento de casos graves de câncer
Os efeitos dos cenários deixados pela pandemia são preocupantes. Mais pacientes devem apresentar um pior estado de saúde, com estágios clínicos mais avançados ou risco de morte, o que terá impactos econômicos e sociais em seus países.
Os resultados indicam que os serviços mais prejudicados pela pandemia foram os de diagnóstico e cirurgia. Neste último, houve uma redução de 40% durante o período mais crítico da pandemia.
E ficou claro que a pandemia de COVID-19 acentuou as desigualdades e vulnerabilidades dos sistemas de saúde na América Latina e no Caribe. Nesta região, o câncer é a segunda maior causa de morte, com mais de 700.000 mortes registradas somente em 2020. No Brasil, de acordo com a Agência Brasil, no Brasil são mais de 280 mil óbitos por ano.
E a previsão é que a incidência de casos de câncer aumente nos próximos anos, devido ao envelhecimento da população e às mudanças no estilo de vida, como hábitos alimentares pouco saudáveis e falta de atividade física regular.
Os entrevistados para a realização do estudo relataram que houve um aumento nos pacientes com recidiva de câncer. Um outro dado importante é que DALY (Disability Adjusted Life Years – Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade) perdeu mais de 10 anos em toda a região.
Impacto econômico
O estudo estimou o impacto econômico do tratamento dos principais tipos de câncer na região, levando em conta as despesas diretas e indiretas. Também foram projetadas as implicações dos custos do tratamento do câncer na região.
O impacto econômico causado pelos atrasos no diagnóstico e início e interrupção do tratamento do câncer está estimado em USD 8,1 bilhões na América Latina e no Caribe. Estima-se que 824.000 pessoas serão afetadas, tanto pelas mudanças no estágio clínico ou pela questão econômica. Ainda há pessoas que irão falecer devido ao atraso no tratamento
Os países mais impactados são o Brasil e o México. Os dois terão um impacto de USD 4,3 bilhões e 502.000 pessoas afetadas. O Brasil também apresenta a maior proporção de despesas estimadas com saúde em câncer. Os números da neoplasia não param de crescer. Para o triênio de 2023-2025, de acordo com o Inca, serão esperados 704 mil casos novos de câncer no Brasil por ano. E também há de se pensar que muitos casos de câncer do triênio anterior (2020-2022) não foram descobertos. Foram estimados 625 mil novos casos de câncer a cada ano.
Para calcular o impacto econômico, foram utilizados principalmente os componentes: a perda de capacidade econômica em um período de 10 anos; o aumento projetado no custo do atendimento médico para 5 anos de tratamento; e as despesas públicas destinadas a combater a pobreza das pessoas empobrecidas pela catástrofe econômica em um período de 10 anos.
Aumento no custo do tratamento câncer
O custo de tratamento do câncer nos próximos 5 anos deverá aumentar para USD 1,5 bilhões, sobretudo por causa dos atrasos no tratamento causados pela COVID-19. A maior parte dos custos será destinado para os cânceres de mama e cervical. E um dos motivos para isso é a alta proporção de casos de câncer de mama e a concentração de casos de câncer cervical em estágios clínicos iniciais.
Os cânceres de pulmão e próstata não impactam nos custos, já que infelizmente a maioria dos pacientes está em estágios avançados e as taxas de sobrevivência ao câncer de pulmão são baixas.
O Brasil e Colômbia arcarão com a maior parte do custo. Brasil, Colômbia e México respondem por 69% das pessoas afetadas, ou seja, mais de meio milhão de pacientes. E também terão 71% das mortes.
Em termos de impacto social, estima-se que 553.000 pessoas sejam afetadas por uma mudança no estágio clínico devido a atrasos no tratamento. Destas 453.000 irão para um estágio clínico mais avançado e 108.000 perderão a vida.
Em um outro possível cenário, em vez dos USD 1,554 bilhões, poderão ser gastos USD 2,132 milhões no tratamento.
Mulheres são as principais atingidas
A pandemia de COVID-19 teve um impacto desproporcional nas mulheres, acentuando a desigualdade de gênero na saúde. Duas a cada três cuidadores são mulheres ou meninas. E os cuidados recaíram principalmente neste grupo.
Oitenta por cento dos entrevistados afirmaram que os programas e atividades de prevenção do câncer na região foram significativamente impactados pela pandemia, e 96% citaram uma redução específica no número de mamografias.
Isso terá um impacto significativo em milhões de mulheres, já que o câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres da região e pode ser curável se detectado precocemente, graças aos importantes programas de triagem de rotina.
O Inca estimou no Brasil, 66.280 casos novos de câncer de mama para o triênio 2020 a 2022. E no novo triênio (2023-2025) serão 74 mil casos novos previstos por ano.
Outras pesquisas confirmam a falta de diagnóstico na saúde complementar
Um outro estudo realizado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) no Brasil encontrou uma redução no número de procedimentos assistenciais entre 2019 e 2020. Os dados utilizados vieram do Mapa Assistencial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e microdados da PNAD Covid-19 do IBGE. Temos um post sobre isso.
As consultas com oncologistas diminuíram em 8,2%, assim como os exames preventivos. O papanicolau em mulheres de 25 a 59 anos caiu em quase um quarto ( -24,4%). Em mulheres de 50 a 69 anos, a redução de mamografias chegou a quase 30%. As internações diminuíram em 18,9%.
De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), houve uma queda na realização de exames, cirurgias e outros procedimentos eletivos. O número é de 27 milhões a menos entre março e dezembro de 2020 , quando comparado com o mesmo período em 2019. A redução foi de 16 milhões de exames para diagnóstico, 8 milhões de procedimentos clínicos, 1,2 milhão de pequenas cirurgias e 210 mil transplantes (órgãos, tecidos e células).
Previva
É necessário um esforço conjunto para combater o aumento do câncer, com investimentos em políticas de prevenção e detecção precoce da doença.
Incentivar a realização de exames periódicos é a melhor maneira de diagnosticar o câncer precocemente. As operadoras precisam redobrar campanhas para alertar os beneficiários. Quanto mais tarde descoberto, mais difíceis são as chances de cura e tratamento. Uma outra forma, é através de programas que previnem o câncer, como o combate a obesidade e ao tabagismo.
A plataforma de Medicina Preventiva Previva é uma ótima ferramenta para auxiliar no gerenciamento de programas. Com o software, os médicos podem acompanhar os exames feitos pelo paciente, o histórico e o tratamento. É possível saber se o paciente já teve câncer, o que torna ainda mais importante a realização de exames preventivos.
Também podem visualizar os beneficiários que melhor se encaixam nos programas. Através de uma busca no banco de dados, pode-se averiguar quais as faixas etárias dos participantes, o sexo e se tem alguma pré-disposição, e pedir exames específicos.